A leitura como agente do conhecimento



16/02/2010

Ricardo Azevedo

  É lendo que desenvolvemos nosso pensamento crítico. Sem ele, os jovens serão sempre presa fácil da propaganda enganosa e da alienação.
  Recentemente, no rádio, um locutor falava em liberdades individuais, no direito de cada cidadão ser o agente de suas próprias decisões e na importância da diversidade de opiniões. Imaginei que fosse alguma ONG em defesa da democracia. Nada disso. O texto era patrocinado por um fabricante de cigarros! A liberdade a que se referia, no fundo, era uma só: a de optar por ser fumante, contrariando todas as informações médicas disponíveis.
  São complexos os desafios da educação nos dias de hoje. Creio que alguns deles nem sempre são lembrados. É preciso formar nossas crianças e jovens de maneira que sejam capazes de perceber que discursos válidos e civilizadores podem ser utilizados como ações de marketing e propaganda (e também por políticos corruptos e regimes autoritários).
  Que discutam o que é autoridade (a confiança conquistada legitimamente), autoritarismo (a obediência obtida à força) e omissão (a desresponsabilização diante, por exemplo, de pessoas inexperientes ou dependentes e, num outro patamar, diante da sociedade).
  Que tenham claro que a liberdade é muito boa, mas tem limites: ninguém tem direito de desrespeitar o direito dos outros. Que compreendam que são responsáveis não apenas pela construção de suas vidas particulares mas também pela da sociedade em que vivem.
   Que aprendam a estudar (poucas escolas ensinam isso) e tenham o melhor preparo técnico possível sem jamais se esquecer de certas características de qualquer ser humano: somos incapazes de viver sem uma sociedade; somos capazes de construir linguagens e símbolos (e não apenas utilizá-los e repeti-los); temos dificuldade de distinguir a subjetividade da objetividade; somos efêmeros (morremos), corporais e passíveis de prazer e sofrimento; podemos pensar em assuntos abstratos como justiça, moral, política e estética; transformar a natureza e a sociedade (para melhor ou para pior) e, ainda, fazer projetos para, com sorte e competência, construir um futuro melhor (onde haja maior coincidência entre os interesses de todos e os interesses de cada indivíduo).
   Que conheçam os extraordinários avanços da modernidade, mas também suas inúmeras contradições. Que tenham acesso à multifacetada cultura de nosso país. Que estejam conscientes das desigualdades de nossa sociedade (por serem imorais e injustificáveis, elas costumam deixar nossas crianças e jovens confusos e céticos). E ainda que sejam levados a compreender que não são a platéia, mas sim os protagonistas do futuro e que, na escola, estão se preparando para construí-lo e ressignificá-lo.
   Não sou pedagogo e conheço pouco os diferentes métodos educacionais. Sejam quais forem, a meu ver, deveriam ter por base assuntos como esses. Eis por que a leitura sempre terá um papel fundamental: desenvolvemos nosso pensamento crítico, principalmente, por meio dela. Sem ele, nossas crianças e jovens, tanto faz de que classe social, serão presa fácil da propaganda enganosa, da alienação e do niilismo.

FONTE :   http://www.leituracritica.com.br

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